Janna Queiroz: das arquibancadas ao conselho do Vozão
- Kaliandra Alves Dias
- 7 de mar. de 2024
- 4 min de leitura
A paixão pelo Ceará sempre fez parte da vida da representante comercial, Janaína Queiroz. Apaixonada por futebol, a torcedora do Vozão é presidente da torcida organizada Torcedoras Raiz - a primeira torcida organizada do Nordeste.
A luta pelo respeito às torcedoras dentro e fora das quatro linhas ganhou um novo capítulo em 2023 quando Janna, como é carinhosamente conhecida, realizou o sonho de ser membro do Conselho Deliberativo do Ceará. Além dela, outras 14 mulheres darão início a um trabalho árduo e cheio de representatividade.
O destaque desempenhado ainda rendeu outro convite: ser coordenadora de assuntos femininos. Com o novo desafio, Janna ressalta, ainda, a importância das mulheres ocuparem os cargos em que as decisões são tomadas. "Sei que não é fácil, mas acredito que com trabalho, objetivo, e foco podemos fazer muitas mudanças significativas para o clube".
Além da responsabilidade em integrar o conselho, ela também avalia a participação de poucas mulheres e ressalta que além de mudar essa situação, ainda busca por outras realizações.
"Uma delas é entenderem que além de consumidoras em potencial, nós mulheres precisamos ser valorizadas e respeitadas. Meu sonho continua, o sonho de um clube mais acessível ao seu torcedor comum e sobretudo a torcida feminina", enfatiza.
Torcedoras Raiz: a primeira torcida organizada do Nordeste
Futebol. A pequena palavra com sete letras não expressa a luta diária do público feminino que enfrenta os preconceitos e busca vivenciar as conquistas dentro e fora das quatro linhas. Apesar disto, um levantamento feito em 2022, pela Kantar Ibope, apontou que as mulheres representam 44% da base de fãs de futebol no país.
Pelos estádios do Brasil, a presença feminina nas arquibancadas vem se fortalecendo com o surgimento de torcidas organizadas. No Nordeste, as torcedoras do Ceará foram pioneiras na criação da torcida organizada Torcedoras Raiz.
A ideia surgiu em 2018 em um aplicativo de mensagens instantâneas e contou com a participação de 20 meninas. "O grupo surgiu com o proposito de deixar o ambiente mais à vontade pras participantes. O grupo foi crescendo, e aí surgiu a ideia de nós organizarmos de uma forma melhor", enfatiza Janna.
A torcedora ainda relembra o momento crucial em que a organizada nasceu. Em 2020, houve uma grande mobilização para barrar a contratação do goleiro Jean, na época o ex-jogador do São Paulo respondia por violência doméstica após ter agredido a sua esposa.
"Fizemos uma grande manifestação de protesto nas redes sociais e conseguimos barrar a vinda dele. Nesse momento eu percebi que de forma organizada poderíamos ter mais voz perante o clube e foi aí que a torcida nasceu".
Da inspiração de outras organizadas para se tornar inspiração
Inspiradas no Bonde Feminino da Cearamor, Tricoloucas e Timbuninas, Jana reconhece o poder das torcidas organizadas do Nordeste e ressalta a inspiração dos movimentos para as Torcedoras Raiz.
Quando optaram por se tornar torcida organizada, as torcedoras do Vozão não imaginavam o poder de inspiração que teriam para outras torcedoras. "Sabemos que somos inspiração pra outros movimentos mas sobretudo da responsabilidade que nós temos. E ficamos felizes por isso".
Para adentrar ao estádio com seus instrumentos e faixas, a oficialização de coletivo para torcida organizada aconteceu em outubro de 2020. Segundo Janna, com a oficialização foi criado um CNPJ como torcida organizada.
Nas redes sociais, o grupo realiza a divulgação de diversas ações sociais. Durante a pandemia, as torcedoras se reuniram e fizeram a entrega de marmitas e cestas básicas à pessoas necessitadas. Outro destaque são as ações voltadas às mulheres, como por exemplo, a divulgação do disque denúncia nacional contra a violência à mulher, o número 180 foi inserido nas costas da camisa da torcida organizada.
Reconhecimento da torcida do Vozão
Nas redes sociais, é unanime o posicionamento em relação ao descaso da diretoria do Ceará. Recentemente, a direção mostrou mais uma vez o descaso com o futebol feminino. Nesta semana, as jogadoras do Vozão descobriram pela imprensa que o time não iria disputar o Brasileirão feminino Série A2 e que o projeto havia chegado ao fim. Em nota, o clube destacou que permanecerá com as categorias de base sub15 e sub17 e ainda alegou que o motivo para o encerramento das atividades do time profissional se refere ao valor investido: um milhão e trezentos e setenta e sete mil reais.
O descaso não abrange apenas quem defende o manto alvinegro dentro de campo. Janna lembra o fato da torcida organizada feminina não ser reconhecida pelo clube. "No início nos questionávamos o porque de não ter esse reconhecimento, hoje não mais. Não mais, pois o mais importante nós já temos, que é o reconhecimento da torcida ao trabalho que desenvolvemos", enfatiza a torcedora.
Com orgulho, Janna destaca que os torcedores auxiliam e participam das ações que são desenvolvidas pelo grupo que, atualmente, conta com a participação de mais de 150 associadas.
"A torcida do Ceará reconhece as Torcedoras Raiz é isso que importa. Os dirigentes passam, mas a torcida fica. Infelizmente existe sim muito machismo no futebol e essa falta de reconhecimento deixa claro mais uma vez isso. Mas a torcida cresce sozinha, com as próprias pernas e recebendo o apoio do maior patrimônio do nosso clube que é o torcedor".
As torcedoras do Ceará têm muito a se orgulhar, não apenas pela representatividade, como também pela voz de Janaína, que se orgulha em ser a porta voz de uma nação apaixonada pelo branco e branco.
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