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Intérpretes de mascotes insinuam que denúncia de assédio foi por 'likes'

Em conversa com o Futebol por Elas, uma das integrantes denunciou

as mensagens machistas. Além de insinuar que denúncia foi feita por likes, um dos integrantes disse que "isso aí é geração nutella, se fosse na época da minha vó essas minas iria tomar banho de álcool com arnica dos pais para aprender a ser mulher"


O assédio sofrido pela repórter Gisele Kümpel ganhou um capítulo importante na última quinta-feira (14). A Polícia Civil do Rio Grande do Sul imitou uma nota informando que Gustavo Acioli Astarita, de 30 anos, foi indiciado por importunação sexual - o inquérito será remetido ao Ministério Público, que decidirá se o homem será denunciado à Justiça. Conforme o Código Penal, a pena prevista para o crime de importunação sexual é de reclusão de um até cinco anos.


O assédio aconteceu após o Internacional marcar o gol da virada no clássico Grenal, onde Gustavo beijou Gisele sem seu consentimento. Em entrevista ao jornalista Pedro Petrucci da Rádio Gaúcha, na quinta-feira (15), a delegada titular da 1ª Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher, Cristiane Machado Pires Ramos informou que Gustavo confessou a ação.


"Ele justificou que a intenção era tirar uma onda, pois ela era a única profissional vinculada ao Grêmio ali. Mas isso não é verdade, havia outros ali. Importante destacar que não é o personagem. É um indivíduo, que se aproveitou de estar com essa roupa, se aproveitou da situação de comemorar o gol para ir na única mulher que estava por ali. Em relação às imagens, elas confirmam o relato da Gisele. No momento da cobrança do pênalti, ele parou do lado dela e ergueu a máscara. Ela, incomodada, saiu e foi para outro canto. Ali havia também outros repórteres identificados com o Grêmio, que afirmaram terem recebido chutes nos pés. Quando acontece o gol, esse homem com a fantasia vai até ela e dá um beijo à força", relata a delegada.

Após a postagem feita nas redes socias do FPE, recebemos uma mensagem via direct no Instagram. Nas mensagens, a intérprete relata o ambiente machista e as insinuações que foram feitas no grupo que reúne os "mascotes" de diversos clubes do Brasil.


As conversas aconteceram no dia 26 de fevereiro, um dia após a denúncia feita por Kümpel. Na gravação de tela, é possível ler diversas "opiniões". A maioria em defesa de Gustavo, inclusive um dos membros do grupo relata que "tô vendo que as minas estão aproveitando demais". Em outro trecho, o mesmo homem escreve. "Isso aí é geração nutella, se fosse na época da minha vó essas minas iria tomar banho de álcool com arnica dos pais para aprender a ser mulher".


Ao longo da conversa, um dos membros ainda propõe que uma campanha à favor de Gustavo seja realizada no Instagram. Entre as "opiniões" machistas, um dos membros relembra o episódio envolvendo o intérprete do Atlético Mineiro que, em 2020 foi afastado de suas funções após uma uma atitude machista envolvendo a zagueira Vitória Calhau. Na época, o funcionário do time mineiro pediu para que a que a atleta desse uma "voltinha". Com a repercussão, o Galo afastou o funcionário, que pediu desculpas a Calhau e ao elenco feminino.


Mas os pedidos de desculpas não apagam o sentimento e, muito menos, as retaliações que as vítimas sofrem. Além do assédio sofrido enquanto trabalhava, Gisele ainda precisou enfrentar o tribunal da internet. Opiniões machistas, "passadas de pano" nas atitudes erradas já é algo característico dos homens. E quando os ataques vêm de outras mulheres?


Nas redes sociais, houve a criação de uma campanha 'velada' intitulada "Liberdade ao Saci". Entre as milhares de postagens, uma chama a atenção feita pela influenciadora Clarice que relata conhecer várias pessoas que buscam o hype em denúncias. "Conheço várias assim, e é O PIOR tipo de pessoa que existe: atrás do biscoito, de like, de visibilidade sempre nas costas dos outros. Apenas mais uma gremista amargurada".



Em um storie publicado, Clarice ainda destaca que: "Não existe 'versão' da história, existe a verdade e ponto. Existe quem inventa história e gagueja e existe quem prova o que fala. Dito isso, boa noite!".


Gisele Kümpel não apenas provou a acusação como também encorajou uma torcedora do Internacional que também fez um boletim de ocorrência contra Gustavo. Em nota, o clube gaúcho informou que o intérprete do mascote foi demitido.


"O Sport Club Internacional comunica que o ator que interpretava o seu mascote não faz mais parte do quadro de funcionários do Inter. O clube reitera que segue à disposição das autoridades para prestar os esclarecimentos necessários para a depuração dos fatos".

O machismo que sempre existiu

Ao comentar o assunto abordado no grupo dos mascotes, a intérprete ainda relata que as mulheres que integram o grupo não participam dos debates e acrescenta a saída de outras mulheres devido aos assuntos abordados.


No grupo, que possui mais de 70 integrantes, apenas Daniel Ferreira defendeu a repórter Gisele Kümpel. Em um dos trechos, Daniel repreende os integrantes e pede se os membros irão continuar com o corporativismo masculino. As respostas não agradaram e Daniel ainda foi repreendido por ter ficado contra Gustavo.


O tom de deboche com a situação vivida por Kümpel tomou proporções maiores quando o mesmo membro destaca que também fará um boletim de ocorrência por importunação quando o seu time vencer o rival.


O Futebol por Elas entrou em contato com Daniel na manhã desta sexta-feira (15). O torcedor destacou a importância da responsabilidade social que os intérpretes dos mascotes devem ter. "Sai do grupo no dia que tive uma briga com eles e não abro mão daquilo que disse. A minha opinião continua sendo a mesma: quando uma mulher faz um boletim de ocorrência é porque algo realmente aconteceu. Ele foi indiciado e que se puna, que a Gisele seja amparada psicologicamente". Daniel ainda acrescentou que não deseja manter contato com os membros.


Além de ser chamado de lacrador, Daniel também foi alvo de deboche dos integrantes. Entre os trechos citados está o fato dele não ser mais mascote do Ferroviário.


A discussão chega ao fim quando um dos membros destaca que "quem não está de acordo com o que aconteceu, saia do grupo. Eu como mascote, estou do lado do Saci, até que prove o contrário. E pelo que vi, é só mais uma querendo aparecer".


A importância da rede de apoio e o encorajamento para denunciar

Fernanda* (nome fictício), é torcedora fanática do São Paulo e em 2023 viveu um episódio de assédio. "Tudo aconteceu rápido, no primeiro momento que ouvi a frase não entendi, quando pedi para o homem repetir foi o instante que virei pro meu namorado e pedi se era, realmente, aquilo que tinha entendido".


A situação aconteceu no momento da entrada da torcedora e de seu namorado no Morumbi. A noite de Copa do Brasil reservava o clássico majestoso pela Copa do Brasil e nem mesmo a vitória e classificação à final da competição fez a torcedora esquecer o episódio. "É uma sensação horrível. Em nenhum momento o cara foi me pedir desculpas. Ele pediu ao meu namorado. Me senti invisível. É isso que nós mulheres nos sentimos INVISÍVEIS! Quando situações como a minha, da Gisele e de tantas outras mulheres acontece nos tornamos invisíveis para a sociedade. Sempre tem aquele questionamento do 'mas tu conhece o agressor?', 'o que você estava usando?', 'tá! mas isso acontece, você é mulher!".


A torcedora ainda enfatiza a felicidade na conclusão do inquérito e no indiciamento de Gustavo por importunação sexual. "Apesar de residir em outro estado, fiquei feliz em saber que a justiça está sendo feita. A decisão da Justiça não é uma vitória apenas da Gisele, mas de todas as mulheres que buscam a tranquilidade e a paz no momento de torcer, trabalhar ou apenas se divertir em uma festa".


Conversei com a repórter Gisele Kümpel, na noite de quinta-feira (14) e expliquei a intenção da matéria e destaquei que não gostaria de tornar esse momento ainda mais doloroso. Como resposta, Gisele destacou que "doloroso é a gente deixar outras mulheres passarem por isso. Entrei na guerra e vou lutar até o fim".


E é, exatamente essa missão que nós, mulheres, temos: LUTAR PARA NÃO DEIXAR OUTRAS MULHERES PASSAREM PELA MESMA DOR! Lutar pelos direitos, pela Justiça e pela liberdade de podermos trabalhar, ir aos jogos, sair ou realizar qualquer atividade em segurança!

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