Hipersexualização é desafio para mulheres em estádios de futebol no Brasil
- Giovannna Maldonado
- 1 de jun. de 2023
- 3 min de leitura
De acordo com estudo da Federação Paulista de Futebol,
apenas 14% do público que frequenta os estádios são feminino
Mulheres convivem, desde os primórdios do mundo esportivo, com hipersexualização, sofrem violências tanto físicas quanto mentais por conta disso. No futebol isso não seria diferente, visto que é um ambiente predominantemente ocupado por homens cisgênero heterossexuais. Entretanto, as mulheres buscam, cada vez mais, enfrentar isso de frente e têm conseguido demonstrar avanços na causa, como relatado pelos entrevistados.
De acordo com a pesquisa da Kantar Ibope, realizada a mais de um ano, mulheres representam 44% dos fãs de futebol no Brasil, mas mesmo que frequentem fielmente esse espaço, muitas relatam o desconforto ao usar as roupas que querem, por terceiros se sentirem no direito de olhar, fazer comentários e até mesmo assediar.
A torcedora do São Paulo, Juliana Garcia (19), é um dos exemplos de mulheres que buscam maior liberdade nas arquibancadas dos estádios de futebol.
“Eu mesma nunca tive coragem de ir ao estádio de shorts, para mim é algo impensável. Até mesmo as camisas eu escolho modelos masculinos, buscando evitar decotes ou que marquem muito. Tenho medo, essa é a verdade”, conta a são-paulina.
Quando o esporte chegou ao Brasil, mulheres frequentavam os estádios como forma de atrair famílias da alta sociedade, com objetivo de mostrar que era um ambiente seguro, além de “embelezar” as arquibancadas, “contribuindo desta forma, muito mais para a composição visual do jogo do que como manifestantes de alguma paixão torcedora”, cita Gabrielle Ferreira em sua monografia.
Nos dias atuais, o problema segue corriqueiro. Para se ter ideia, a Federação Internacional de Associações de Futebol (FIFA) orientou as emissoras de televisão responsáveis pelas transmissões da Copa do Mundo de 2022 para que não exibissem imagens que reforçassem a erotização de mulheres nas arquibancadas.
Lívia Abreu (24), torcedora do Santos, e Larissa Augusto (22), torcedora do Palmeiras, acreditam que as mulheres podem também contribuir com essa sexualização, apesar do maior problema ser devido ao machismo estrutural enraizado na sociedade. “Algumas atitudes, mesmo que não tenham essa intenção, podem acabar manchando um pouco essa imagem e contribuindo com a sexualização”, diz Larissa.
Lívia concorda e acrescenta que “mulher usando do futebol para mostrar o corpo não é legal para nós que lutamos por um espaço. Influencers que nem gostam de futebol, mas pegam a camisa do time e tiram foto de biquíni”.
Além desse problema, as mulheres, em muitos momentos, são encurraladas nos estádios. A influenciadora e torcedora do Corinthians Paulista, Flávia Bandoni, conta: “Uma amiga foi xingada por um torcedor. Além de ser ameaçada por ele de ser agredida na saída do estádio, pelo fato de dizer que o boné dele era verde. Disse que ia bater nela do lado de fora da arena”. Por fim, ela relata que o indivíduo não fez nada, pois viu que sua colega era tiktoker e acabou pedindo desculpas.
“Não é um problema casual, é um problema social grave de um país que não suporta mulher no meio do esporte", relata Vinícius Cassin, 29, influenciador e torcedor do Santos que entende dos seus privilégios enquanto frequentador de estádios. Para ele, essa não é uma modificação que acontecerá do dia pra noite, pois é uma sociedade inteira, com costumes e preconceitos enraizados, que tem que começar a mudança.
No ponto de vista de Flávia, a transformação começa na valorização de mulheres que trazem conteúdo para o mundo futebolístico. Para as demais entrevistadas, é necessário continuar as idas frequentes aos estádios, e falar sobre o que gostam e sabem em suas redes sociais, que é o futebol. E o mais importante: denunciar e se impor sempre que perceberem situações em que as mulheres sejam desrespeitadas nesse meio.
“Se calar nunca é a solução. Se quem tem influência não falar, isso vai seguir sendo normalizado. Nós não podemos ter medo de frequentar os estádios”, completa Juliana.
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