Flamengo e um amor de gerações
- Hellora Raibolt
- 21 de ago. de 2019
- 1 min de leitura
Minha bisavó se chamava Maria Júlia e viveu até os seus quase 97 anos. Não tenho muitas histórias compartilhadas com ela e nem muitas lembranças guardadas. Quando as minhas memórias começaram a ser formadas, as delas começavam a ser esquecidas. Porém, uma coisa é impossível esquecer: o amor que ela tinha pelo Flamengo.
Sua pequena casa em uma vila de cidade pequena era decorada com bandeiras, copos, fotos onde duas cores sempre chamavam atenção - vermelho e preto.
Minha bisavó fez meu pai, seu neto, prometer a ela que passaria o amor pelo Flamengo para os seus filhos, e assim ele o fez. Dona Maria Julia viveu em uma época onde mulheres tinham poucos ou quase nenhum direito. Ir a um estádio? Jamais. Ter opinião sobre futebol? Isso não é coisa de mulher. Torcer pra um time? Mulheres tinham mais o que fazer. Ainda assim.
Talvez seja por isso que meu pai me olhe de forma admirada todas as vezes que eu faço um comentário sobre a escalação do time, sobre como uma substituição não deveria ter sido feita, ou sobre como uma contratação grande vai mudar os rumos do time no campeonato. Talvez seja por isso que ele me olhe encantado enquanto desfilo orgulhosamente estampando meu manto rubro-negro pela rua. Talvez ele pense: “é vó, a missão que a senhora me deu está cumprida, o amor pelo futebol exala da sua bisneta”. Então, bisa, obrigada.
Obrigada por ter tido coragem de ser mulher e flamenguista, obrigada por ter aberto caminho pra hoje eu estar aqui, escrevendo sobre futebol. Obrigada.
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