A rivalidade que incendia as arquibancadas e ruas em Paris
- Mônica Figueiredo
- 1 de jun.
- 2 min de leitura
A histórica rivalidade entre Paris Saint-Germain e Olympique de Marseille ganhou um novo capítulo nesta semana, mas com um desfecho que os marselheses não esperavam: o PSG venceu a Champions League pela primeira vez em sua história.
Na véspera da final, disputada no último sábado (31), às 16h, na Allianz Arena, torcedores do Olympique protagonizaram uma movimentação curiosa: invadiram lojas de artigos esportivos em busca de camisas da Internazionale, adversária dos parisienses na grande decisão.
“É realmente uma busca, todo mundo quer saber da Inter, enquanto o ano todo não tem procura. Ninguém me pede uma camisa. Ninguém pergunta e então parece que todos ficaram interessados. Francamente é uma loucura, mas vamos realmente rezar para que o Inter vença”, afirmou um comerciante ao jornal francês BFM TV.
O gesto foi mais do que uma simples provocação. Era uma tentativa clara dos torcedores do Olympique de impedir que o PSG igualasse um feito histórico: até então, apenas o clube de Marselha havia conquistado a Champions, em 1993, diante do Milan.
O conflito começa fora de campo. Marselha é a segunda maior cidade francesa, ficando atrás somente de Paris. É também o principal porto comercial da França, o que a torna a maior porta de entrada de imigrantes no país europeu, logo é uma cidade multiétnica. Para alguns especialistas, essa mistura de culturas não é bem vista por parte da população parisiense. Além disso, para os marselheses existe uma soberba no tratamento dos moradores de Paris em relação à população das outras cidades francesas.
Em campo, foi pelo pé dos imigrantes, em cidades mais abertas, que os esportes se desenvolveram em solo francês, principalmente, o futebol, tendo em vista que Paris tratava o esporte bretão como uma simples “moda inglesa". Assim, o Olympique de Marseille surgiu em 1899 e logo ganhou popularidade no país, enquanto o PSG nasceu bem depois, em 1970.
Os conflitos entre as equipe começam a surgir já na década de 80, quando é criado os “Boulogne boys”, torcida ultra do PSG que era contra a imigração e deixava isso bem claro em seus cânticos xenófobos e racistas.
Mas é nos anos 90 que a rivalidade toma a forma que conhecemos hoje. O Olympique, recém comprado por Bernard Tapie após uma crise, passa a transformar investimento em títulos. Ao mesmo tempo, o PSG, que por anos foi “saco de pancadas” dos Olympiens, é comprado pelo CANAL+ e começa a ganhar mais destaque midiático e expressão no país.
Em 1992, Tapie é acusado de manipulação de resultados no Campeonato francês, o que rende a retirada do título nacional dos marselheses daquela temporada e o rebaixamento na liga. Desde então, o Olympique tenta se reerguer, enquanto o PSG, principalmente com o investimento catari, nada de braçadas nos campeonatos nacionais e é figurinha carimbada nas competições europeias.
Essa mudança de status das equipes, às questões sociais e culturais envolvendo as duas cidades faz com que a rivalidade do “Le Classique” vá bem além dos gramados e justifique essa explosão nas vendas de camisas italianas, mesmo em solo francês. "Aqui somos todos a favor do Inter. É assim que é. 'Porque?' Porque somos de Marselha antes de tudo, não somos parisienses”, afirma um torcedor ao jornal francês La Provence.
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