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Quando futebol e cultura andam juntos

No último domingo (30), a zagueira marroquina Nouhalia Benzina marcou seu nome na Copa do Mundo feminina ao se tornar a primeira atleta a disputar uma partida do mundial usando um Hijab (véu tradicional islâmico). Na última semana. o nome de Nouhalia frequentemente apareceu em sites de notícias desportivas debatendo sobre seu grande feito, porém, fora apenas isso, não houve muita preocupação em entender a importância do uso do Hijab não só para Nouhalia, mas também para a cultura islâmica apaixonada pelo esporte e mesmo para o universo futebolístico.


Essa pequena crítica tem como intuito aprofundar a compreensão de como o ato da zagueira marroquina foi um divisor de águas, um marco para a trajetória de jogadoras e também para as torcedoras. Mas, para compreender a importância do ato de Nouhalia, é necessário compreender a importância do Hijab para a cultura muçulmana, levando em consideração o contexto em que cada situação se apresenta.


O Hijab é o véu mais tradicional da religião muçulmana, que costuma cobrir apenas o cabelo, as orelhas e o pescoço. Apesar de ser um dever às mulheres muçulmanas, não é uma obrigatoriedade.


“É um dever da mulher muçulmana, mas ao mesmo tempo nós temos livre arbítrio – Eu escolho todos os dias conscientemente usar o Hijab, pois é uma forma de externalizar minha fé” (Fatima Cheaitou, à revista Capricho)

A escolha de usar ou não o Hijab adentra também o campo da identidade, pois ao optar por usá-lo a mulher está demonstrando sua identificação cultural, colocando-se como um indivíduo social.


Contudo, a estranheza causada pelo uso do Hijab para a cultura ocidental é devida na maioria das vezes a falta de conhecimento cultural do mundo islâmico, suas crenças e tradições e também pelo rotineiro costume de olhar para a cultura do outro a partir do "meu" viés sociocultural.


Feitas tais considerações, voltemos ao uso do Hijab pela zagueira marroquina no mundial. Mesmo o futebol sendo um espaço de inclusão, diversidade e interação para muitos, ainda existe dentro do futebol restrições e regras que acabam criando uma divisão no que é possível incluir e o que devemos deixar de fora e, a questão das vestimentas entra nessa tênue linha.


No ano de 2007. a FIFA proibiu o uso do Hijab, assim como o uso de bonés e chapéus, alegando questões de segurança, todavia, essa medida mostrou um teor preconceituoso acima de qualquer outra norma de seguridade. Após o burburinho, em 2012, a entidade permitiu um período experimental com o uso do Hijab pela Confederação Asiática – sendo que em 2014 tal proibição foi suspensa.


Passados quase uma década, o ato de Nouhalia Benzina torna-se histórico pois ao fazer o uso do Hijab ela não está apenas expressando sua fé, mas está dando um tapa na cara dos preconceituosos e praticando sua cultura de forma livre.


“As meninas vão olhar para Benzina e pensar: pode ser eu” – (Assmaah Helal, cofundadora da Rede de Esportes de Mulheres Muçulmanas, em entrevista recente à AP).

Ao fazer uso do Hijab, Nouhalia, trouxe uma maior representatividade, inclusão e diversidade ao futebol, demonstrando que sim, o futebol é cultural e o mais importante, respeita e apoia essas diferenças.

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