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Prazer, meu nome é Marcos Antônio, mas pode me chamar de Índio

Historiadora de formação – durante os anos de graduação e recentemente na pós, uma das grandes críticas feitas na academia está relacionada ao eurocentrismo existente na produção intelectual e também em nossas pesquisas. Críticas essas quais fui e sou veemente apoiadora. Sim, grande parte dos intelectuais do século XX encontravam-se na Europa e são de suma importância para a formação da história enquanto ciência, todavia, eles não são os únicos, há um leque de estudiosos ao redor do mundo com experiências e conhecimentos valiosos que precisamos ter contato e difundi-lo.


Gostaria de estender essa pequena observação sobre a produção do conhecimento histórico ao mundo do futebol. Meu grande ídolo do futebol, que me despertou o amor pelo esporte é Paolo Maldini, zagueiro, lateral esquerdo e capitão do Milan, não usarei o termo “ex” pois ele remete ao algo que já foi – passado e para qualquer apreciador do futebol italiano Maldini é presente. Uso meu próprio exemplo para remeter a minha geração que cresceu acompanhando os ídolos do futebol mundial no final dos anos 2000 e ainda lembra com orgulho de Zinedine Zidane, David Beckham, Steven Gerrard e que ainda contam sobre a fantástica transferência de Cristiano Ronaldo do Sporting para o Manchester United e sua ascensão. Todos esses craques são importantíssimos para a história do futebol, porém há tantos outros que são pouco lembrados, isso por que? Talvez pela velha prática de exaltar o mundo europeu e acreditar que tudo o que há de melhor esteja lá.


Ao mesmo tempo em que despertara meu amor pelo futebol e a completa admiração por Maldini, havia outro zagueiro que assim como as passadas largas no campo, a passadas largas conquistava minha completa admiração defendendo por dez temporadas as cores do Sport Club Internacional, seu nome, Marcos Antônio, mas para os amantes do futebol, Índio.


Escrever sobre esse personagem tão importante para a história colorada não fora uma tarefa fácil, mas é lisonjeiro. Durante as pesquisas sobre a carreira de Índio os dados que encontrei foram basicamente os mesmos, falavam sobre sua trajetória iniciada em 1993 e o grande “bum” a partir de 2005 quando contratado junto ao Inter e os títulos conquistados com o clube. Todas essas informações são verídicas e transmitem o tamanho da carreira do jogador no colorado, contudo não passam de números, são frios e não são capazes de mensurar a importância que o zagueiro teve tanto para o clube e principalmente para a torcida. Algumas das histórias mais valiosas sobre o zagueiro foram encontradas em entrevistas a podcasts feitos por companheiros de clube e adversários que o consideravam com o perdão da palavra “pacas”.


“Ele só não foi pra seleção porque começou tarde” (Alex ao Ulisses Cast)


Nascido em 1975 no interior de São Paulo, Marcos Antônio que mais tarde passaria a ser conhecido como Índio, trabalhava cortando cana desde os 12 ou 13 anos e conta que o primeiro presente que ganhou de seu pai e tem lembrança foi um facão e uma moringa para usar no trabalho. O que nos toca na história vitoriosa do zagueiro foi a recusa em desistir, assim como tantos brasileiros Índio acordava as quatro horas da manhã para trabalhar e trabalhava de sol a sol, mas crente que história iria mudar e mudou.


Apesar de todas as dificuldades sofridas, ele nunca desistiu e por meio do futebol começou uma nova história. O que fazia de Índio um bom zagueiro? Impossível precisar, e se alguém tiver a sorte de o fazer essa pergunta acredito que nem ele mesmo saberá responder. Porém, acredito que o que o tornava um zagueiro exemplar não era seu físico ou seu talento, apesar de serem importantes, mas o que o tornava tão bom era esperança que ele sempre carregou consigo, e a crença de que sempre poderia ir mais longe, fazer melhor e isso ele fazia.


Em entrevista ao Ulisses Cast, Alex companheiro de Índio durante anos no Internacional, comentou sobre a intensidade com que o zagueiro jogava, sem nem mesmo se importar com lesões, o que segundo o meia, ele mal sentia. O principal exemplo é visto em 2006 no Mundial de Clubes no Japão quando o colorado enfrentou o Barcelona e o zagueiro na última metade do confronto jogou com o nariz quebrado, simbolizando assim sua bravura e garra alvirrubra.


Ao todo foram 10 temporadas vestindo a camisa colorada, 391 jogos disputados, 33 gols e 15 títulos conquistados. Um dos maiores zagueiros do Internacional, ou o maior, fica a critério de cada torcedor, Marcos Antônio, o Índio é o zagueiro com mais gols na história do colorado – o “Homem Grenal”, com seis gols em 21 clássicos.


Dialogar com a história e a careira do zagueiro não é tarefa fácil e acredito que o decorrer destas linhas não fora capaz de mensurar o tamanho desse jogador para a história do futebol, porém, acrescenta um outro ponto de vista. O viés de uma torcedora que procurou transmitir a trajetória do Marcos Antônio... do Índio, da forma que muitos torcedores colorados veem e sentem.


“É muito amor que criei aqui dentro desse clube. Eu não me via mais vestindo outra camisa a não ser encerrar minha carreira no Inter.” (Índio em sua entrevista de despedida)

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