A fênix do futebol: das cinzas à glória da equipe italiana
- Érica Karina
- 16 de jan. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 1 de abr. de 2024
Quem de nós já não fez uma promessa ao iniciar o ano? Prometendo que iríamos mudar e melhorar as coisas? Creio que ao menos uma vez na vida já fizemos, mas para lograr êxito nessa promessa, o que foi feito? Quais atitudes foram tomadas e, o mais importante, quais medos foram enfrentados? Para a mudança realmente acontecer é preciso que nós nos reconstruamos, é preciso enfrentar o mundo e principalmente ter a força e coragem de recomeçar.
Assim como acontece na vida, o futebol também exige força e coragem para recomeçar, ou reestreiar como gosto de dizer. Durante muitos anos vi inúmeros times caírem e se reerguerem, voltarem a brilhar, da mesma forma, vi também alguns times caírem e nunca mais voltarem a seus dias de glória. O motivo dessa diferença? São inúmeros, como a situação financeira, por exemplo, mas um fator decisivo na mudança, ou na falta dela, é a coragem. Coragem de olhar para dentro e refletir sobre os erros e acertos que levaram ao fracasso ou ao sucesso, e então tomar a decisão de fazer diferente, admitir para si mesmo e para os fãs do esporte que estava errado, mas que um tempo de recomeços estará se iniciando.
E como é bom pensar em recomeços, é o início de um novo ciclo e, que muitas vezes, o ciclo anterior deu errado, foi infrutífero, mas significa que se está pronto para fazer melhor. Um exemplo muito recente de um novo ciclo no mundo do futebol, é a reconstrução da seleção italiana, campeã da Eurocopa 2020-2021.
Chamada por muitos de “o país da bota”, a Itália, tetra campeã mundial e mundialmente famosa por formar exímios defensores, atravessou em 2017 um dos momentos mais difíceis de sua história. Diante de um San Siro lotado, um empate sem gols contra a Suécia, e no agregado 0 a 1 a favor dos suecos, deixou os italianos fora de uma Copa do Mundo pela primeira vez desde 1958. A não classificação da Itália para a Copa era um ponto final para uma crise que já estava se arrastando há anos, tendo sido eliminada ainda na fase de grupos das copas de 2010 e 2014, e mesmo apesar de um desempenho razoável na Euro de 2016, terminando a competição em quinto lugar, o futebol italiano passava por uma profunda crise ocasionada pelas sucessivas más gestões.
Os dias gloriosos como campeã da Copa do Mundo de 2006, foram se esvaindo, assim como uma geração de craques que foram envelhecendo e dando adeus aos gramados. A situação vivenciada pela Squadra Azurra era semelhante ao cenário das categorias de base das esquipes italianas, quais não logravam êxito na formação de craques, sem dúvidas esse era um dos piores momentos da história do futebol italiano.
Concomitante ao fracasso da Itália e suas equipes nacionais, o futebol via erguer-se um novo estilo de jogar, liderado pela estratégia de Pep Guardiola, se via uma modernização das táticas de jogo, um futebol que buscava mais a posse de bola para envolver o adversário, com um estilo deslumbrante. A mudança proposta por Guardiola fez repensar a forma de jogar da Itália, iniciando em equipes não tradicionais como o Atalanta, o que passou a se ver foi um futebol mais moderno que, aos poucos foi sendo incorporado em outras equipes e na seleção principal.
Os dias desastrosos foram sucedidos por dias de luta e reconstrução e, com esse espírito em maio de 2018, o primeiro passo para um novo ciclo é dado. A Azurra anuncia como novo técnico Roberto Mancini. Mancini é ex-jogador que obteve sucesso jogando pela Sampdoria, sendo até hoje seu maior artilheiro com 173 gols, apesar do sucesso na equipe nunca conseguiu se firmar como titular na seleção principal, todavia, a chance de voltar a Azurra lhe dava uma nova oportunidade: ser uma peça fundamental na reconstrução de uma potência.
A tarefa delegada a Mancini não era nada fácil, era preciso manter a essência do futebol italiano: sua forte defesa, mas também incorporar um esquema leve, rápido e envolvente. Para a missão de reconstruir a equipe, foram testados 63 jogadores no total de 36 jogos. Uma peça chave para o novo elenco de Mancini foi a forma como o técnico conseguiu remodelar a equipe, aliando o tradicional e a inovação, a nova Azurra contava com a experiência do capitão Giorgio Chiellini e o veterano Leonardo Bonucci, mas também tinhas caras novas, como o promissor goleiro rossonero Gianluiggi Donnarumma e o atacante Federico Chiesa, filho de Enrico Chiesa.
O elenco contava também com outros nomes já conhecidos como Lorenzo Insigne e Ciro Immobille, e o meio campista Jorginho, brasileiro naturalizado italiano, outro nome fundamental foi o do lateral esquerdo Leonardo Spinazzola. O lateral sofreu durante sua carreira com uma série de lesões que o impediram de mostrar por completo seu futebol, mas graças aos deuses da bola, Spinazzola teve a oportunidade de mostrar seu talento, e se tornou uma peça chave para a renovada Itália. Fazia, muito tempo desde a aposentadoria de Paolo Maldini que não se via tanto talento em um lateral.

De fato, Mancini havia acertado a mão, a seleção apresentava um futebol ofensivo e envolvente ao passo que mantinha a qualidade no setor defensivo, essas qualidades levaram a equipe ao tão sonhado bicampeonato da Eurocopa 2020. Desde que Mancini assumiu o comando italiano até a conquista da Euro, eram 33 jogos de invencibilidade, sendo 27 vitórias e seis empates, recordo nacional e, com a vitória sob a Inglaterra nas penalidades, a Azurra sagrou-se campeão invicta da competição.
A reconstrução da seleção italiana foi um processo árduo e longo, para os torcedores espalhados pelos quatro cantos do mundo, foram muitas as lágrimas derramadas, foram muitos os gritos de Inoltrare Azurra, até os dias em que se pode soltar o grito de Campeone. O caminho de volta ao topo é inesperado e cheio de surpresas, nunca se sabe o resultado, mas, se souber o que se está buscando já é valido. Assim como na vida, no futebol é necessário esforço, coragem e força para recomeçar. O recomeço é o primeiro passo para alcançar o caminho da glória.
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