Às margens do Guaíba o Gigante se ergueu
- Érica Karina
- 30 de jan. de 2022
- 4 min de leitura
Fundado em 4 de abril de 1909 pelos irmãos Poppe, o Sport Club Internacional desde seu início teve como um dos seus pilares a democracia, a liberdade e o amor. O amor entre clube e torcida sempre foi exaltado e demonstrado em vários momentos da história do clube e, não consigo pensar em um momento mais marcante do que a construção do Beira-Rio.
Sediado em Porto Alegre, o Estádio dos Eucaliptos foi a primeira casa do Inter, todavia, a aurora das glórias e conquistas dos anos de 1940 e 1950, via-se a necessidade de um lar maior que comportasse o tamanho das ambições do clube e o calor da torcida.
Nesse ímpeto, foi apresentado à câmara municipal de vereadores em 1956 um projeto para a doação de uma área para construção ao colorado. Segundo o próprio site oficial do clube, “registro algum, até hoje, foi capaz de determinar com exatidão o momento em que surgiu a ideia de erguer o Beira-Rio, no entanto, o pontapé inicial na história da construção do Gigante foi em 12 de setembro de 1956”.
Com uma área cedida pela prefeitura de aproximadamente oito hectares, via-se o primeiro passo para a realização de um novo sonho, contudo, a área doada encontrava-se no dentro do Rio Guaíba, o que fazia necessário um esforço para aterrar o local antes de qualquer projeto para dar início às obras. De fato, a construção de um novo estádio não era uma tarefa fácil, mas no final de 1957, o aterro torna-se realidade.
“Arregaçarei as mangas, e só irei abaixá-las quando o Estádio estiver pronto!”
A célebre frase dita por José Pinheiro Borda, presidente da comissão de obras do clube. O entusiasmo de Borda e sua comissão de obras espalhou-se pelo Estado e contagiou colorados de todas as regiões que, por intermédio de campanhas de rádio, passaram a colaborar na construção, doando materiais como tijolos e cimento e, até mesmo sua mão de obra. Ainda no intuito de estimular as doações e a torcida, começaram a ser vendidos títulos para continuar com a construção, o montante arrecadado chegou à casa dos 40 mil, o que foi surpreendente, o próprio Borda, disse em entrevista à Zero Hora, não ter noção da proporção que o clube atingira.
Ainda em período de construção do estádio, clube e torcida sofrem um duro golpe, a morte de José Pinheiro Borda em 1965 aos 67 anos de idade. A triste perda motivou ainda mais os trabalhadores e torcedores a concluir a obra e, no ano seguinte um busto em frente ao portão 1 foi construído, Borda seria sempre lembrado e honrado pelo clube e pelos seus torcedores, sendo proposto batizar o novo estádio com seu nome, ideia essa que foi logo aceita por todos.
A “Campanha do Tijolo” de 1967, visava estimular a doação de dinheiro para a compra de tijolos para concluir a obra, porém foi compreendida como uma campanha de doações de tijolos, e os torcedores levavam os próprios tijolos para terminar a obra, há quem diga que até Falcão, que anos mais tarde tornou-se ídolo do clube, levou tijolos para a construção do estádio. Graças a campanha, o Gigante da Beira-Rio foi concluído em 1968, restando apenas alguns acabamentos até sua tão esperada inauguração.
Em um domingo de 1969, mais especificamente no domingo de páscoa, no dia 6 de abril, o colorado recebe o Benfica de Portugal. O confronto acaba em 2 a 1 a favor do Clube do Povo, diante de um público de mais de 100 mil expectadores. A vitória do Colorado diante de uma das melhores equipes do mundo, marcou a inauguração de um dos maiores palcos do futebol.
Por dentro do Gigante
O Beira-Rio é um dos maiores estádios do país, sendo referência para jogos nacionais e internacionais. Em sua inauguração, segundo dados do site oficial do clube, as cabines eram equipadas com Telex, que transmitia informações para Lisboa e Londres, sendo o único clube a contar com esse sistema na época. Desde sua inauguração, o Beira-Rio se tornou referência, sendo reformado para a Copa do Mundo do Brasil em 2014.
Além de receber jogos do Internacional, o estádio também serviu como palco para shows e eventos. Conta também com o Museu Engenheiro Ruy Tedesco ou somente o Museu do Inter, sendo possível encontrar em seu acervo, taças e troféus, flamulas, fotografias e registros da história do Colorado.
O Museu do Inter oferece um tour para os visitantes conhecerem o Estádio, desde as arquibancadas até o vestiário do clube, conhecendo a linha do tempo do clube e os 100 primeiros anos do Colorado, incluindo o histórico e inédito octacampeonato gaúcho, marca jamais igualada até hoje. Outro serviço ofertado para os visitantes é o “Eu na foto”, onde é possível tirar fotos ao lado dos troféus e dos ídolos do clube, além da “Arquibancada” um espaço onde é possível acompanhar filmes sobre a história do Inter ou jogos inesquecíveis, bem como, é um espaço livre para debates sobre qualquer tema que permeia a sociedade gaúcha e brasileira.
Então, conhecia a história do Estádio José Pinheiro Borba, o Beira-Rio? Gostou de saber sobre o museu? O melhor é que o Museu Colorado é o único no país a garantir o acesso gratuito a todos os sócios.
“Aqui todos serão iguais, sem diferenças ideológicas, políticas, religiosas, sociais – todos serão irmãos” (Bispo Dom Edmundo Kuntz – Conselheiro do Inter nos anos 1960).
Além das facilidades que oferece aos torcedores, o clube mantém seu lado social. Integrado ao Beira-Rio, o Gigantinho, o ginásio poliesportivo do Inter recebe eventos esportivos, bem como eventos socioeducacionais, servindo em alguns momentos como espaço para simulados pré-vestibular e sediando assembleias. Outro grande diferencial no Gigantinho é que o ginásio é usado como abrigo para moradores em situação de rua, durante os intensos frios que atingem a região sul no inverno brasileiro.
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